Capitulo III: Meios para a comunhão e participação

892 Responsáveis que somos pelo ministério da evangelização, preocupa-nos como fazer chegar ao homem latino-americano a Palavra de Deus, de tal modo que seja por ele escutada, assumida, encarnada, celebrada e transmitida a seus irmãos.

893 Sabemos que Deus é quem a faz crescer; todavia, o Senhor da messe espera a colaboração de seus servos. Por isso, queremos refletir sobre os principais meios de evangelização, com os quais a Igreja cria comunhão e convida os homens ao serviço de seus irmãos.

894 A comunidade que, na liturgia, celebra alegremente a Páscoa do Senhor, tem o compromisso de dar testemunho, de catequizar, educar e comunicar a Boa Nova por todos os meios a seu alcance.Sente outrossim a necessidade de entrar em comunhão e diálogo com os homens do nosso Continente que buscam a verdade.

CONTEÚDO

1.Liturgia, oração particular, piedade popular
2.Testemunho
3.Catequese
4.Educação
5.Comunicação social

1. LITURGIA, ORAÇÃO PARTICULAR, PIEDADE POPULAR

895 A oração particular e a piedade popular, presentes na alma do nosso povo, constituem valores de evangelização; a liturgia é o momento privilegiado de Comunhão e Participação para uma Evangelização que conduz à libertação cristã integral, autêntica.

1.1. Situação

a) Liturgia

896 Em geral, a renovação litúrgica na América Latina está dando resultados positivos, pelo fato de se estar novamente encontrando a posição real da Liturgia na missão evangelizadora da Igreja, pela maior compreensão e participação dos fiéis, favorecidos pelos novos livros litúrgicos e pela difusão da Catequese pré-sacramental.

897 Isto foi favorecido pelos documentos da Sé Apostólica e das Conferências Episcopais, bem como por encontros em diversos níveis: latino-americano, regional, nacional, etc.

898 Facilitaram esta renovação o idioma comum, a riqueza cultural e a piedade popular.

899 Sente-se a necessidade de adaptar a Liturgia às diversas culturas e à situação de nosso povo jovem, pobre e humilde.

900 A falta de ministros, a dispersão populacional e a situação geográfica do Continente fizeram crescer a consciência da utilidade das celebrações da Palavra e da importância de servir-se dos meios de comunicação social (rádio e televisão) para alcançar a todos.

901 Verificamos entretanto que não se tem atribuído ainda à pastoral litúrgica a prioridade que lhe cabe dentro da pastoral de conjunto, continuando muito prejudicial a oposição existente em alguns setores entre Evangelização e Sacramentalização.Falta um aprofundamento da formação litúrgica do clero; nota-se marcada ausência de catequese litúrgica destinada aos fiéis.

902 A participação na liturgia não repercute de forma adequada no compromisso social dos cristãos.A instrumentalização que, por vezes, se faz da mesma, lhe desfigura o valor evangelizador.

903 Prejudicial também tem sido a falta de observância das normas litúrgicas e do seu espírito pastoral, por abusos que causam desorientação e divisão entre os fiéis.

b ) Oração particular

904 A religiosidade popular do homem latino-americano possui uma rica herança de oração, arraigada em culturas autóctones e, depois, evangelizadas pelas formas de piedade cristã de missionários e imigrantes.

905 Consideramos um tesouro o costume existente desde outrora de reunir se para orar em festividades e ocasiões especiais.Mais recentemente, a oração foi enriquecida pelo movimento bíblico, por novos métodos de oração contemplativa e pelo movimento de grupos de oração.

906 Muitas comunidades cristãs carentes de ministro ordenando acompanham e celebram seus acontecimentos e festas com reuniões de oração e canto que, a um tempo, evangelizam a comunidade e lhe proporcionam força evangelizadora.

907 Em vastas áreas, a oração familiar tem sido o único culto existente; de fato, ela manteve a unidade e a fé da família e do povo.

908 A invasão da TV e do Rádio nos lares põe em risco as práticas piedosas no seio da família.

909 Embora a oração brote muitas vezes por força de necessidades meramente pessoais e se expresse em fórmulas tradicionais não assimiladas, não se pode ignorar que a vocação do cristão deve levá-lo ao compromisso moral, social e evangelizador.

c) Piedade popular

910 No conjunto do povo católico latino-americano manifesta-se, em todos os níveis e sob formas bastante diversificadas, uma piedade popular que nós, bispos, não podemos deixar passar despercebida.E que precisa ser estudada com critérios teológicos e pastorais, para se descobrir seu potencial evangelizador.

911 A América Latina está insuficientemente evangelizada. A maioria do povo exprime sua fé prevalentemente na piedade popular.

912 As manifestações de piedade popular são muito variadas, de caráter comunitário e individual; entre elas deparamos: o culto a Cristo sofredor e morto, a devoção ao Sagrado Coração, diversas devoções à Santíssima Virgem Maria, o culto dos santos e defuntos, as procissões, novenas, festas de padroeiros, peregrinações e santuários, os sacramentais, as promessas, etc.

913 A piedade popular apresenta aspectos positivos como: senso do sagrado e do transcendente; disponibilidade para ouvir a Palavra de Deus; marcada piedade mariana; capacidade para rezar; sentido de amizade, caridade e união familiar; capacidade de sofrer e reparar; resignação cristã em situações irreparáveis; desprendimento das coisas materiais.Mas apresenta também aspectos negativos: falta de senso de pertença à Igreja; desvinculação entre fé e vida; o fato de não conduzir à recepção dos sacramentos; exagerada valorização do culto dos santos com detrimento do conhecimento de Jesus Cristo e de seu mistério; idéia deformada a respeito de Deus; conceito utilitário de certas formas de piedade; propensão, em alguns lugares, para o sincretismo religioso; infiltração do espiritismo e, em certos casos, de práticas religiosas do Oriente.

914 Freqüentemente se suprimiram formas de piedade popular sem razões válidas e sem substituí-las por algo melhor.

1.2. Critérios doutrinais e pastorais

a) Liturgia

915 É necessário que toda esta renovação seja orientada por uma autêntica teologia litúrgica. Nesta sobressai a teologia dos sacramentos. Isto contribuirá para a superação duma mentalidade neo-ritualista.

916 Pai, por Cristo e no Espírito, santifica a Igreja e, por ela, o mundo; mundo e Igreja, por sua vez, por Cristo e no Espírito dão glória ao Pai.

917 A liturgia, como ação de Cristo e da Igreja, é o exercício do sacerdócio de Jesus Cristo ; é o ápice e a fonte da vida eclesial .É um encontro com Deus e os irmãos; banquete e sacrifício realizado na Eucaristia; festa de comunhão eclesial, na qual o Senhor Jesus; por seu mistério pascal, assume e liberta o Povo de Deus e, por ele, toda a humanidade, cuja história é convertida em história salvífica, para reconciliar os homens entre si e com Deus.A liturgia é também força em nosso peregrinar, para que se leve a bom termo, mediante o compromisso transformador da vida, a realização plena do Reino, segundo o plano de Deus.

918 Na Igreja particular, "o bispo deve ser tido como o sumo sacerdote de sua grei; dele deriva e depende, de certo modo, a vida em Cristo dos seus fiéis" (SC 41).

919 homem é um ser sacramental; no nível religioso, exprime suas relações com Deus num conjunto de sinais e símbolos; Deus, igualmente, os utiliza quando se comunica com os homens.Toda a criação é, de certa forma, sacramento de Deus, porque no-lo revela.

920 Cristo "é imagem de Deus invisível" (Col 1,15). Como tal, é o sacramento primordial e radical do Pai: "aquele que me viu, viu o Pai" (Jo 14,9).

921 A Igreja é, por sua vez, sacramento de Cristo para comunicar aos homens a vida nova. Os sete sacramentos da Igreja concretizam e atualizam esta realidade sacramental para as diversas situações da vida.

922 Por isso, não basta recebê-los de forma passiva, mas sim inserindo-nos vitalmente na comunhão eclesial.Pelos sacramentos Cristo continua, mediante a ação da Igreja, a encontrar-se com os homens e salvá-los.

923 A celebração eucarística, centro da sacramentalidade da Igreja e presença mais plena de Cristo no meio da humanidade, é o centro e ponto culminante de toda a vida sacramental.

924 A renovação litúrgica deve ser orientada por critérios pastorais fundados na própria natureza da liturgia e de sua função evangelizadora.

925 A reforma e renovação litúrgicas fomentam a participação, que conduz à comunhão. A participação plena, consciente e ativa na liturgia é fonte primária e necessária do espírito verdadeiramente cristão .Por isso, as considerações pastorais, salva sempre a observância das normas litúrgicas, devem superar o mero rubricismo.

926 Os sinais, importantes em qualquer ação litúrgica, devem ser empregados de maneira viva e digna, com o pressuposto duma catequese adequada.As adaptações previstas na Constituição Sacrosanctum Concilium e nas normas pastorais posteriores são indispensáveis para se conseguir um rito acomodado às nossas necessidades, especialmente às do povo simples, tendo-se em conta suas legítimas expressões culturais.

927 Nenhuma atividade pastoral pode-se realizar sem referência à liturgia.As celebrações litúrgicas supõem uma iniciação à fé, mediante o anúncio evangelizador, a catequese e a pregação bíblica; esta é a razão de ser dos cursos e encontros pré-sacramentais.

928 Qualquer celebração deve ter, por sua vez, uma projeção evangelizadora e catequética adaptada às diversas assembléias de fiéis, pequenos grupos, crianças, grupos populares, etc.

929 As celebrações da Palavra, com uma abundante, variada e bem escolhida leitura da Sagrada Escritura , são de muito proveito para a comunidade, principalmente onde não há presbíteros e, sobretudo, para a realização do culto dominical.

930 A homilia, como parte da liturgia, é ocasião privilegiada para se expor o mistério de Cristo no aqui e agora da comunidade, partindo dos textos sagrados, relacionando-os com o sacramento e aplicando-os à vida concreta. Sua preparação deve ser esmerada e sua duração, proporcionada às outras partes da celebração.

931 Quem preside à celebração é o animador da comunidade que, por sua atuação, favorece a participação dos fiéis; donde a importância duma forma digna e adequada de celebrar.

b ) A oração particular

932 O exemplo de Cristo orante: o Senhor Jesus, que passou pela terra fazendo o bem e anunciando a Palavra, dedicou, sob o impulso do Espírito, muitas horas à oração, falando com seu Pai com filial confiança e incomparável intimidade e dando o exemplo a seus discípulos, aos quais ensinou expressamente a orar.O cristão, movido pelo Espírito Santo, há de fazer da oração motivo de sua vida diária e de seu trabalho; a oração cria nele um clima de louvor e agradecimento ao Senhor, aumenta-lhe a fé, conforta-o na esperança operosa, leva-o a entregar-se aos irmãos e a ser fiel na faina apostólica, torna-o capaz de formar comunidade.A Igreja que ora em seus membros une-se à oração de Cristo.

933 A oração em família: a família cristã, evangelizada e evangelizadora, deve seguir o exemplo de Cristo orante. Assim, a sua oração manifesta e sustenta a vida da Igreja doméstica, na qual se acolhe o germe do Evangelho que cresce para tornar todos os seus membros capazes de serem apóstolos e fazerem da família um núcleo de evangelização.

934 A liturgia não esgota toda a atividade da Igreja. Recomendam-se os exercícios piedosos do povo cristão, contanto que sejam conformes às normas e leis da Igreja, derivem, de certa maneira, da liturgia e a ela conduzam .O mistério de Cristo é uno e, em sua riqueza, inclui manifestações e modos diversos de chegar aos homens.Graças à sua rica herança religiosa e em virtude da urgência das circunstâncias de tempo e lugar, as comunidades cristãs tornam-se evangelizadoras ao viverem a oração.

c ) Piedade popular

935 A piedade popular conduz ao amor de Deus e dos homens e ajuda as pessoas e os povos a tomarem consciência de sua responsabilidade na realização do próprio destino .A autêntica piedade popular, baseada na palavra de Deus, encerra valores evangelizadores que ajudam a aprofundar a fé do povo.

936 A expressão da piedade popular deve respeitar os elementos culturais nativos.

937 Para constituir um elementos eficaz de evangelização, a piedade popular precisa duma constante purificação e clarificação, e levar, não só à pertença à Igreja, mas também à vivência cristã e ao compromisso com os irmãos.

1.3. Conclusões

a) Liturgia

938 Dar à liturgia sua verdadeira dimensão de ponto culminante e manancial da atividade da Igreja (SC 10).

939 Celebrar a fé, na Liturgia, como encontro com Deus e com os irmãos, como festa de comunhão eclesial, como fortalecimento em nosso peregrinar e como compromisso de nossa vida cristã. Dar especial importância à liturgia dominical.

940 Revalorizar a força dos "sinais" e sua teologia.

941 Na Liturgia, celebrar a fé com expressões culturais, obedecendo a uma sadia criatividade.Promover adaptações adequadas particularmente aos grupos étnicos e ao povo simples (grupos populares); atentando, porém, a que a Liturgia não seja instrumentalizada para fins alheios a sua natureza, respeitem-se fielmente as normas da Santa Sé e, nas celebrações litúrgicas, evitem-se arbitrariedades.

942 Estudar a função catequética e evangelizadora da liturgia.

943 Promover a formação dos agentes de pastoral litúrgica, por meio duma autêntica teologia que os leve a um compromisso vital.

944 Procurar oferecer aos presidentes das celebrações litúrgicas condições aptas para aprimorarem sua função e conseguirem uma comunicação viva com a assembléia; pôr um especial esmero na preparação da homilia, cujo valor evangelizador é grande. Fomentar as celebrações da palavra dirigidas por diáconos ou leigos (homens ou mulheres).

945 Preparar e realizar com esmero a liturgia dos sacramentos, a das grandes festividades e a que se realiza nos santuários.

946 Aproveitar como ocasiões propícias de evangelização a celebração da palavra nos funerais e nos atos de piedade popular.

947 Promover a música sacra, como serviço eminente que corresponde à índole de nossos povos.

948 Respeitar o patrimônio artístico religioso e fomentar a criatividade artística adaptada às novas formas litúrgicas.

949 Incrementar as celebrações transmitidas pelo rádio e televisão, levando em conta a natureza da liturgia e a índole dos respectivos meios de comunicação utilizados.

950 Fomentar os encontros preparatórios para a celebração dos sacramentos.

951 Aproveitar as possibilidades oferecidas pelos novos rituais dos sacramentos. Os sacerdotes dediquem-se de maneira especial a administrar o sacramento da reconciliação.

b ) Oração particular

952 A diocese, na sua pastoral de conjunto, a paróquia e as comunidades menores (Comunidades Eclesiais de Base e família) integrem em seus programas evangelizadores a oração pessoal e comunitária.

953 Procurar que todas as atividades na Igreja (como sejam reuniões, uso de Meios de Comunicação Social, obras sociais, etc.) sejam ocasião e escola de oração.

954 Utilizar os seminários, mosteiros, escolas e outros centros de formação como lugares privilegiados para orar, irradiar vida de oração e formar mestres da mesma.

955 Os sacerdotes, religiosos e leigos comprometidos, salientem-se por seu exemplo de oração e pelo ensino da mesma ao Povo de Deus.

956 Promover as obras que fomentem a santificação do trabalho e a oração dos enfermos e inválidos.

957 Fomentar as formas de piedade popular que contribuam para fortalecer a oração pessoal, familiar, de grupo e comunitária.

958 Incluir os grupos de oração na pastoral orgânica, para que orientem seus membros para a liturgia, a evangelização e o compromisso social.

c) Piedade popular

959 Esmerem-se os agentes de pastoral por recuperar os valores evangelizadores da piedade popular em suas diversas manifestações, quer pessoais, quer coletivas.

960 Tome-se a piedade popular como ponto de partida para conseguir que a fé do povo ganhe madureza e profundidade; para isso, esta piedade popular basear-se-á na palavra de Deus e no sentido de pertença à Igreja.

961 Não se prive o povo de suas expressões de piedade popular. Caso algo tenha que mudar, proceda-se gradualmente e recorra-se a uma prévia catequese para conseguir algo melhor.

962 Orientar os sacramentos ao reconhecimento dos benefícios de Deus e à tomada de consciência do compromisso que o cristão tem no mundo.

963 Apresentar a devoção a Maria e aos Santos como realização neles da Páscoa de Cristo e recordar que elas devem conduzir à vivência da Palavra e ao testemunho de vida.

2. TESTEMUNHO

2.1. Situação

964 A Igreja deu de diversas maneiras, através de sua história na América Latina, testemunho daquilo em que crê: sua fidelidade ao Vigário de Cristo, a mútua ajuda entre as Igrejas particulares; a existência e as realizações do Conselho Episcopal Latino-Americano são sinais da comunhão em que ela vive.

965 A Igreja, através de inumeráveis sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, tem estado presente entre os mais pobres e necessitados, pregando a Mensagem e pondo em obra a caridade que o Espírito nela difunde para a promoção integral do homem, e dando testemunho de que o Evangelho tem força para elevá-lo e dignificá-lo.

966 Contudo, nem todos os membros da Igreja têm guardado o devido respeito para com o homem e sua cultura; muitos deram mostras duma fé pouco vigorosa para vencer seus egoísmo, seu individualismo e apego às riquezas, agindo injustamente e lesando a unidade da sociedade e da própria Igreja.

2.2. Critérios doutrinais

967 Cristo, primeiro evangelizador e testemunha fiel, evangeliza dando testemunho verdadeiro do que viu junto do Pai e faz as obras que vê o Pai fazer; suas ações dão testemunho de que veio do Pai.

968 Os verdadeiros cristãos, unidos a Jesus, dão por seu turno este mesmo testemunho.Por suas obras, testificam o amor que o Pai tem para com os homens, o poder salvador com que Jesus Cristo liberta do pecado e o amor neles infundido pelo Espírito que neles habita e que é capaz de criar a verdadeira comunhão com o Pai e os irmãos.

969 As obras dos cristãos guiados pelo Espírito são: amor, comunhão, participação, solidariedade, domínio de si mesmo, alegria, esperança, justiça realizada na paz , castidade, entrega desinteressada de si mesmo; numa palavra, tudo aquilo que constitui a santidade; esta anda acompanhada pela freqüência aos sacramentos, oração e intensa devoção a Maria.

970 verdadeiro testemunho dos cristãos é, portanto, manifestação das obras que Deus realiza nos homens. O homem dá testemunho baseado, não em suas próprias forças, mas na confiança que tem no poder de Deus que o transforma e na missão que lhe confere.

2.3. Critérios pastorais

971 Sendo o testemunho elemento primordial da evangelização e condição essencial para a verdadeira eficácia da pregação , faz-se mister que esteja sempre presente na vida e ação evangelizadora da Igreja, de tal sorte que, no contexto da vida latino-americana, atue como "sinal" que provoque o desejo de conhecer a Boa Nova e ateste a presença do Senhor entre nós.

972 Na situação em que vivem os nossos povos, os frutos do Espírito, que formam o núcleo do nosso testemunho, exigem que tanto a hierarquia como o laicato e os religiosos vivamos numa contínua autocrítica, à luz do Evangelho, em nível pessoal, grupai e comunitário, para nos despojarmos de qualquer atitude que não seja evangélica e desfigure a fisionomia de Cristo.

973 Esta é a nossa primeira opção pastoral: a própria comunidade cristã, seus leigos, seus pastores, seus ministros e seus religiosos devem converter-se cada vez mais ao Evangelho, para poderem evangelizar os outros.

974 Importante é, sobretudo, que revisemos, em comunidade, nossa comunhão e participação com os pobres, os humildes, os pequenos.Será, portanto, necessário escutá-los, acolher o mais íntimo de suas aspirações, valorizar, discernir, animar, corrigir, com o desejo de que o Senhor nos guie para tornar efetiva a unidade com eles num mesmo corpo e num mesmo espírito.

975 Isto pede de nós uma oração mais assídua, meditação mais profunda da Escritura, despojamento íntimo e efetivo, segundo o Evangelho, de nossos privilégios, modos de pensar, ideologias, relacionamentos preferenciais e bens materiais; maior simplicidade de vida; comprometer-nos na realização de ações significativas, como seja o cabal cumprimento da "hipoteca social" da propriedade; a comunhão cristã de bens materiais e espirituais; a colaboração em ações comunitárias de promoção humana e uma vasta gama de obras de caridade, cujo mínimo que se possa exigir é a justiça, associada à maior liberdade diante de critérios e poderes pervertidos.

976 Também importa que a Igreja progrida, em nível continental, na realização de sinais que dêem testemunho de sua vitalidade interior; entre esses sinais estão a maior solidariedade entre as Igrejas particulares e a melhor coordenação pastoral através do CELAM, que deve continuar servindo à colegialidade episcopal e à comunhão intra-eclesial na América Latina.

3. CATEQUESE

977 A catequese "que consiste na educação ordenada e progressiva da fé" (Mensagem do Sínodo de Catequese, nº 1 ), deve ser atividade prioritária na América Latina, se quisermos conseguir uma renovação profunda da vida cristã e, com esta, uma nova civilização que seja participação e comunhão de pessoas na Igreja e na sociedade.

3.1. Situação

Do ponto de vista histórico, a partir de Medellin, podem-se notar na catequese aspectos positivos e negativos:

Positivos:

978 O florescimento da ação catequética nos diversos países, mediante novas e ricas experiências, como por exemplo:

979 * Um esforço sincero para integrar a vida com a fé, a história humana com a história da salvação, a situação humana com a doutrina revelada, a fim de que o homem consiga a sua verdadeira libertação;

980 * Uma pedagogia catequética positiva, que parte da pessoa de Cristo para chegar a seus preceitos e conselhos;

981 * Um amor mais acendrado à Sagrada Escritura, como fonte principal da catequese;

982 * Uma educação baseada no sentido construtivo da pessoa e da comunidade, numa visão cristã.

983 * Um redescobrimento da dimensão comunitária da catequese, de sorte que a comunidade eclesial está se tornando responsável pela catequese em todos os níveis: na família, na paróquia, nas Comunidades Eclesiais de Base, na comunidade escolar e na organização diocesana e nacional;

984 * Uma tomada de consciência cada vez maior de que a catequese é um processo dinâmico, gradual e permanente de educação na fé;

985 * Um aumento de Institutos para a formação de catequistas, em muitas partes e em todos os níveis: diocesanos, nacionais e internacionais;

986 * Uma proliferação de textos de catecismo. Isto, às vezes é positivo, outras é negativo, na, medida em que são parciais ou não renovados.

Negativos:

987 * A catequese não consegue atingir todos os cristãos em medida suficiente, nem todos os setores e situações como, por exemplo: vastos setores da juventude, das elites intelectuais, dos camponeses e do mundo operário, das forças armadas, dos anciãos e dos enfermos, etc;

988 * Não raro, cai-se em dualismos e falsas oposiçôes, como entre catequese sacramental e catequese vivencial; catequese da situação e catequese doutrinal.Por não situar-se numa posição de justo equilibro, alguns têm caído no formalismo e outros no vivencial sem apresentação de doutrina; há, os que passaram do memorismo à total ausência de memorização;

989 * Há catequistas que descuram a iniciação à oração e à liturgia;

990 * Por vezes, não se respeita a diferença entre certos assuntos que são da alçada dos teólogos e outros que cabem aos catequistas em sintonia com o magistério; devido a isso, tem sucedido difundirem-se, entre os catequistas, conceitos que não passam de meras hipóteses teológicas ou de estudo;

991 * Verifica-se certa desorientação das atitudes catequéticas no campo ecumênico.

3.2. Critérios teológicos

a) Comunhão e participação

992 A obra evangelizadora que se efetua na catequese exige a comunhão de todos: ela requer ausência de divisões e que as pessoas se encontrem numa fé adulta e num amor evangélico. Uma das metas da catequese é precisamente a construção da comunidade.

993 Impõe-se a colaboração de todos os membros da comunidade eclesial, cada qual de acordo com seu ministério e carisma. Sem se esquivar de responsabilidades apostólicas e missionárias, para que, com a catequese, a Igreja edifique a Igreja. A Igreja é constantemente evangelizada e evangelizadora.

b) A fidelidade a Deus

994 A fidelidade a Deus se expressa na catequese como fidelidade à Palavra outorgada em Jesus Cristo. O catequista não prega a si mesmo, mas Jesus Cristo, sendo fiel à sua Palavra e à integridade da sua Mensagem.

c) Fidelidade à Igreja

995 Todo aquele que catequiza sabe que a fidelidade a Jesus Cristo anda indissoluvelmente unida à fidelidade à Igreja; que ele, com seu trabalho, está continuamente a edificar a comunidade e a transmitir a imagem da Igreja; que deve fazer isto em união com os bispos e com a missão deles recebida.

d) Fidelidade ao homem latino-americano

996 A fidelidade ao homem latino-americano exige da catequese que ela penetre, assuma e purifique os valores de sua cultura . Por conseguinte, que se esmere no uso e adaptação da linguagem catequética.

997 A catequese deve, por conseqüência, iluminar com a Palavra de Deus as situações humanas e os acontecimentos da vida, para neles fazer descobrir a presença ou ausência de Deus.

e) Conversão e crescimento

998 A catequese deve levar a um processo de conversão e crescimento permanente e progressivo na fé.

f ) Catequese integradora

999 "Em toda a catequese integral, devem-se unir sempre de modo inseparável:

* o conhecimento da Palavra de Deus;

* a celebração se fé nos sacramentos;

* a confissão da fé na vida cotidiana " (Sínodo de 1977, 11) .

3.3. Projetos Pastorais

Para cumprir sua missão evangelizadora na América Latina, a catequese deverá ter pressentes os seguintes itens:

1000 a) Formar homens pessoalmente comprometidos com Cristo, capazes de participação e comunhão no seio da Igreja e dedicados ao serviço da salvação do mundo.

1001 b) Tomar como fonte principal a Sagrada Escritura, lida no contexto da vida, à luz da Tradição e do Magistério da Igreja, transmitindo, além disso, o símbolo da fé; portanto, dará importância ao apostolado bíblico, difundindo a Palavra de Deus, formando grupos bíblicos, etc.

1002 c) Dar prioridade pastoral à formação adequada dos catequistas, em diversos institutos, atendendo à sua especialização em função das diversas situações, idades e áreas em que vivem os catequizandos, p. ex. crianças, jovens, camponeses, operários, forças armadas, elites, enfermos, deficientes, presidiários, etc.

1003 d) Nos Institutos de formação dos sacerdotes e dos religiosos e religiosas, adaptar a "Ratio studiorum", como algo urgente para que se intensifique o ensino da transmissão adequada e atualizada da mensagem evangélica.

Os catequistas devem procurar:

1004 * A integridade do anúncio da Palavra, para superar dualismos, falsas aposições e a unilateralidade;

1005 * Iniciar os catequizandos na oração e na liturgia; no testemunho e no compromisso apostólico;

1006 * Ministrar uma catequese vocacionalmente orientadora, explicando também a vocação leiga, suscitando um compromisso adaptado às diferentes idades, desde a infância até a idade adulta;

1007 * Como educadores da fé das pessoas e das comunidades, empenhar-se numa metodologia que inclua, sob forma de processo permanente por etapas sucessivas, a conversão, a fé em Cristo, a vida em comunidade, a vida sacramental e o compromisso apostólico;

1008 * Ministrar uma educação integral da fé, que inclua os aspectos seguintes:

* A capacitarão do cristão para "dar razão de sua esperança".

* A capacidade de dialogar ecumenicamente com os outros cristãos.

* Uma boa formação para a vida moral, assumida como seguimento de Cristo, acentuando-se a vivência das Bem-aventuranças.

* A formação gradual para uma ética sexual crista positiva.

* A formação para a vida política e a doutrina social da Igreja.

A Metodologia

1009 Os catequistas tenham em consideração a importância da memória, conforme o que afirma o Papa Paulo VI: "Memorizar as mais importantes sentenças bíblicas, mormente as do N.T., e os textos litúrgicos que se usam para a oração em comum e para tornar mais fácil a confissão da fé"; e dêem importância às técnicas audiovisuais: desenho, fotopalavra, mini-média, dramatização, canto, etc.

A ação catequética

1010 * Deverá dirigir-se de forma simultânea aos grupos e às multidões. Para estas últimas, são de muita eficácia as missões populares, convenientemente renovadas numa linha evangelizadora.

1011 * Favoreça-se a catequese permanente, desde a infância até a velhice integrando-se entre si as comunidades ou instituições que catequizam, a saber, a família, a escola, a paróquia, os movimentos e as diversas comunidades ou grupos.

4. EDUCAÇÃO

1012 Para a Igreja, educar o homem é parte integrante de sua missão evangelizadora, continuando assim a missão de Cristo Mestre.

1013 Quando a Igreja evangeliza e consegue a conversão do homem, também o educa, pois a salvação (dom divino e gratuito) longe de desumanizar o homem, o aperfeiçoa e enobrece; faz com que cresça em humanidade .A evangelização é, neste sentido, educação. Todavia, a educação enquanto tal não pertence ao conteúdo essencial da evangelização, mas ao seu conteúdo integral.

4.1. Situação

1014 O múnus educativo desenvolve-se entre nós numa situação de transformação sócio-cultural, caracterizada pela secularização da cultura, influenciada pelos meios de comunicação de massa e marcada pelo desenvolvimento econômico quantitativo que, embora haja significado algum progresso, não suscitou as requeridas mudanças para uma sociedade mais justa e equilibrada.A situação de pobreza de grande parte de nossos povos está significativamente correlacionada com os processos educativos. Os setores deprimidos são os que mostram maiores taxas de analfabetismo e deserção escolar e as menores possibilidades de conseguir emprego.

1015 Em algumas nações, constitui situação problemática a presença, de grupos aborígenes que, não obstante seus valores culturais (formas de organização social, sistemas simbólicos, costumes e celebrações comunitárias, artes e habilidades manuais), carecem de formas estruturadas de educação, de escrita e de certa sagacidade e hábitos mentais, circunstâncias estas que os marginalizam e mantêm numa situação desvantajosa.Para eles, as instituições educativas convencionais são, não só estranhas, mas também pouco funcionais, pois costumam operar como mecanismos de desenraizamento e evasão da comunidade.

1016 O crescimento demográfico acelerou a demanda de educação em todos os níveis: elementar, médio e superior, à qual corresponde um considerável aumento de oferta, especialmente por parte do setor estatal.Contudo, a distribuição de recursos fiscais costuma obedecer a critérios políticos, mais do que à preferência por áreas menos favorecidas. Também a iniciativa privada e as instituições vinculadas à Igreja têm contribuído, apesar das dificuldades, para aumentar a oferta educacional.

1017 As relações entre Igreja e Estado em matéria de educação variam de um país para outro.Em alguns, existam formas, legais ou de fato, duma real colaboração; em outros, situações de conflito, mormente onde impera o monopólio educativo do Estado.Em geral, o diálogo depende ás situação política. Alguns governos chegaram a considerar subversivos certos aspectos e conteúdos da educação cristã.

1018 A crescente demanda educacional de índole variada cria também para a Igreja novos desafios, não só no campo da educação convencional (colégios e universidades), mas também em outros: educação de adultos, educação á distância, não-formal, assistemática, em estreita ligação com o notável desenvolvimento dos meios modernos de comunicação social, e, finalmente, as amplas possibilidades ensejadas pela educação permanente.

1019 Entre os religiosos educadores surgem questionamentos sobre a instituição escolar católica, porque favoreceria o elitismo e a mentalidade classista; por causa dos escassos resultados na educação da fé e das mudanças sociais; devido a problemas financeiros, etc.Esta tem sido uma das causas que levaram muitos religiosas a abandonar o campo da educação em troca duma ação pastoral considerada mas direta, valiosa e urgente.

1020 Nota-se, com satisfação, a presença crescente dos leigos nas instituições educativas eclesiais e comprova-se a intervenção de cristãos responsáveis em todos os campos da educação.

1021 Verificam-se influências ideológicas na maneira de conceber a educação, mesmo cristã.Uma, de feitio utilitário-individualista, a considera simples meio para assegurar um porvir: um investimento a prazo.Outra procura instrumentalizar a educação, não com fins individualistas, mas a serviço dum projeto sócio-político definido, quer de tipo estatal, quer coletivista.

1022 Experimentam-se dificuldades na coordenação de agentes e agências educativas eclesiais, entre si e com os bispos, quer porque não se aceita plenamente a liderança destes, quer por menosprezar-se uma preocupação e compromisso dos pastores no campo da educação.Em conseqüência disto, nota-se também deficiência na planificação educacional e, até, certa incapacidade para fixar os objetivos.

1023 Está adquirindo maior vigência a idéia da "comunidade ou cidade educativa", na qual se integram, atual ou potencialmente, todos os fatores educativos da comunidade, a partir da família e realçando-se o papel da mesma.Esta concepção está transformando alguns colégios em verdadeiros agentes de evangelização.

4.2. Princípios e critérios

1024 A educação é uma atividade humana da ordem da cultura; a cultura tem uma finalidade essencialmente humanizadora .Desta forma, compreende-se que o objetivo de toda educação genuína seja humanizar e personalizar o homem, sem desvirtuá-lo, mas pelo contrário orientando-o eficazmente para seu fim último que transcende a essencial finitude do homem.A educação será tanto mais humanizadora quanto mais se abrir para a transcendência, ou seja, para a verdade e o Sumo Bem.

1025 A educação humaniza e personaliza o homem quando consegue que este desenvolva plenamente o seu pensamento e sua liberdade, fazendo-os frutificar em hábitos de compreensão e comunhão com a totalidade da ordem real; por meio destes, o próprio homem humaniza o seu mundo, produz cultura, transforma a sociedade e constrói a história.

1026 A educação evangelizadora assume e completa a noção de educação libertadora, porque deve contribuir para a conversão do homem total, não só em seu eu profundo e individual, mas também no eu periférico e social, orientando-o radicalmente para a genuína libertação cristã, que torna o homem acessível à plena participação no mistério de Cristo ressuscitado, isto é, à comunhão filial com o Pai e à comunhão fraterna com todos os homens, seus irmãos.

Esta educação evangelizadora deverá englobar, entre outras, as características seguintes:

1027 a) Humanizar e personalizar o homem, para nele criar o lugar onde possa revelar-se e ser escutada a Boa Nova: o desígnio salvífico do Pai em Cristo e na sua Igreja.

1028 b) Integrar-se no processo social latino-americano, impregnado por uma cultura radicalmente cristã, na qual, entretanto, coexistem valores e contravalores, luzes e sombras e que, por isso, necessita ser constantemente reevangelizada.

1029 c) Exercer a função crítica própria da verdadeira educação, procurando regenerar permanentemente, do ponto de vista da educação, os princípios culturais e as normas de interação social que possibilitem a criação duma nova sociedade, verdadeiramente participante e fraterna, em outras palavras, educação para a justiça.

1030 d) Converter o educando em sujeito, não só do seu próprio desenvolvimento, mas também posto a serviço do desenvolvimento da comunidade: educação para o serviço.

Considerado o que precede, enumeram-se os seguintes critérios:

1031 a) A educação católica pertence à missão evangelizadora da Igreja e deve anunciar explicitamente Cristo Libertador.

1032 b ) A educação católica não deve perder de vista a situação histórica e concreta em que o homem se encontra, a saber, sua situação de pecado na ordem individual e social.Por conseguinte, propõe-se formar personalidades fortes, capazes de resistir ao relativismo debilitante e viver coerentemente as exigências do batismo (EC 12).

1033 c) A educação católica deve produzir os agentes da transformação permanente e orgânica que a sociedade da América requer (Med 4, II, 8) mediante uma formação cívica e política inspirada na doutrina social da Igreja (João Paulo II, Discurso Inaugural I, 9. AAS. LXXI. p. 195).

1034 d) Por ser uma pessoa, todo homem tem direito inalienável à educação que corresponda ao seu fim, caráter, sexo; acomodada à cultura e às tradições pátrias .Aqueles que não recebem esta educação devem ser considerados com os mais deserdados , portanto, mais necessitados da ação educativa da Igreja.

1035 e) O educador cristão desempenha uma missão humana e evangelizadora. As instituições educativas da Igreja recebem um mandato apostólico da Hierarquia.

1036 f) A família é a primeira responsei pela educação. Toda tarefa educadora deve habílitá-la a que possa exercer esta missão.

1037 g) A Igreja proclama a liberdade de ensino, não para favorecer privilégios ou o lucro particular, mas como um direito à verdade, que assiste às pessoas e às comunidades .Ao mesmo tempo, a Igreja se declara disposta a colaborar no múnus educativo da nossa sociedade pluralista.

1038 h) De acordo com os dois princípios anteriores, o Estado deveria distribuir eqüitativamente o seu orçamento com as outras organizações educativas não estatais, a fim de que os pais, que também são contribuintes, possam escolher livremente a educação para seus filhos.

4.3. Sugestões pastorais

1039 * Fomentar, em união com os agentes de pastoral familiar, a responsabilidade da família, especialmente dos pais, em todos os aspectos do processo educativo.

1040 * Reafirmar eficazmente, sem esquecer outras responsabilidades da Igreja no campo educacional, a importância da escola católica em todos os níveis, favorecendo sua democratização e transformando-a, conforme as orientações do Documento da Sagrada.

Congregação para a Educação Católica, em:

* Instância efetiva de assimilação crítica, sistemática e integradora do saber e da cultura geral.

* Lugar mais apto para o diálogo entre a fé e a ciência.

* Ambiente privilegiado que favoreça e estimule o crescimento na fé, coisa que não depende só dos cursos de religião programados.

* Alternativa válida para o pluralismo educacional.

1041 * Ajudar os religiosos e religiosas educadores, especialmente os jovens, a redescobrirem e aprofundarem o sentido pastoral de seu trabalho na escola, de acordo com o seu carisma próprio, prestando-lhes apoio em tarefa tão difícil.

1042 * Promover o educador cristão, especialmente o leigo, para que assuma a sua pertença e posição na Igreja, como chamado a participar da sua missão evangelizadora no campo da educação.

1043 * Dar prioridade, no campo educacional, aos numerosos setores pobres da nossa população, marginalizados material e culturalmente, orientando para eles, com preferência, de acordo com o ordinário do lugar, os serviços e recursos educativos da Igreja.

1044 * Igualmente prioritária é a educação de líderes e agentes de transformação.

1045 * Acompanhar a alfabetização dos grupos marginalizados com atividades educacionais que os ajudem a comunicar-se eficazmente; a se darem conta dos seus deveres e direitos; a compreenderem a situação em que vivem e a discernirem suas causas; a se habilitarem para organizar-se no campo civil, trabalhista e político, e assim poder participar plenamente dos processos decisórios que lhes dizem respeito.

1046 * Sem descurar os atuais compromissos educacionais escolares, urge responder com generosidade e imaginação aos desafios que a Igreja da América Latina hoje enfrenta e no futuro enfrentará.

Essas novas formas de ação educativa não podem ser fruto da veleidade ou improvisação, mas requerem suficiente capacitação de seus promotores e uma fundamentação em diagnósticos objetivos das necessidades, bem como o inventário e avaliação dos próprios recursos.

Aconselhável seria recorrer ao uso de métodos participativos.

1047 * Promover a educação popular (educação informal) para revitalizar a nossa cultura popular, incentivando tentativas que, por meio da imagem e do som, ponham criativamente em destaque os valores e símbolos profundamente cristãos da cultura latino-americana.

1048 * Estimular a comunidade civil em todos os seus setores.Para isso, é necessário instaurar um diálogo franco e receptivo, a fim de que ela assuma suas responsabilidades educativas e consiga transformar-se, junto com suas instituições e recursos, numa autêntica "cidade educativa".

1049 * Promover a coordenação de tarefas, agentes e instituições educativas na ação pastoral da Igreja particular, por meio de um organismo competente, vinculado ao Bispo, a cujo encargo estarão as funções de planejamento e avaliação.Faz-se mister uma avaliação objetiva de atividades, obras e situações, que possa levar à melhor utilização dos recursos, modificando, suprimindo ou criando instituições ou programas.

1050 * Elaborar, sobretudo em nível de comissões episcopais, a doutrina ou teoria educativa cristã, baseada nos ensinamentos da Igreja e na experiência pastoral. Isto dará ensejo a examinar, à luz da referida doutrina, os princípios objetivos e métodos dos sistemas educativos vigentes, para ínterpretá-los adequadamente e avaliar criticamente seus resultados.Partindo desta teoria, urge a elaboração dum projeto educativo cristão em nível nacional ou continental, no qual desde logo se inspirarão os ideários concretos das diversas instituições educacionais.

4.4 Universidades

1051 Observou-se nos últimos dez anos uma enorme demanda de ensino superior, com o ingresso em massa dos jovens latino-americanos nas universidades, motivado em grande parte pelo acelerado desenvolvimento de nossos países.Tal fato fez surgir o grave problema da incapacidade do sistema educativo e social para poder satisfazer a todas as demandas; esta incapacidade deixa frustrados a milhares de jovens, porque muitos não entram na universidade, e porque muitos que delas saem não encontram emprego.

1052 A secularização da cultura e os progressos da tecnologia e dos estudos antropológicos e sociais levantam a série de interrogações a respeito do homem, de Deus e do mundo. Isto causa confrontações entre ciência e fé, entre a técnica e o homem, de modo especial para os crentes.

1053 As ideologias em voga sabem que as universidades são um campo propício para sua infiltração e para conseguir o domínio da cultura e da sociedade.

1054 A universidade deve formar verdadeiros líderes, construtores duma nova sociedade, e isto implica, por parte da Igreja, dar a conhecer a mensagem do Evangelho neste meio e fazê-lo com eficácia, respeitando a liberdade acadêmica, inspirando-lhe a função criativa, tornando-se presente à educação política, e social de seus membros, iluminando a pesquisa científica.

1055 Segue-se dai a atenção que todos devemos dar ao ambiente intelectual e universitário. Pode-se afirmar que se trata duma opção-chave capital e funcional da evangelização, pois do contrário perder-se-ia uma posição decisiva para iluminar as mudanças de estruturas.

1056 Como os resultados não se podem medir a curto prazo, poderia ficar-nos a impressão de fracasso e ineficiência.Contudo, isto não deve diminuir a esperança e o empenho dos cristãos que trabalham no campo universitário, pois, apesar dais dificuldades, eles estão colaborando na missão evangelizadora da Igreja.

1057 Importante é a evangelização do mundo universitário (professores, pesquisadores e estudantes) mediante contatos e serviços de animação pastoral oportunos em instituições não eclesiais de educação superior.

1058 Deve-se insistir mui especialmente em que a universidade católica, vanguardeira da mensagem cristã no mundo universitário é chamada a prestar um serviço relevante à Igreja e à sociedade.

1059 Num mundo pluralista, não lhe é fácil manter a própria identidade. Ela cumprirá sua função, enquanto católica, descobrindo "o seu significado último e profundo em Cristo, na sua mensagem salvífica que abarca o homem em sua totalidade" (João Paulo II, Alocução Universitários 2 - AAS, LXXI, p. 236).Enquanto universidade, procurará sobressair pela honestidade científica, pelo compromisso com a verdade, pela preparação de profissionais competentes para o mundo do trabalho e pela pesquisa de soluções para os problemas mais angustiantes da América Latina.

1060 Sua missão educadora primordial será promover urna cultura integral capaz de formar pessoas que sobressaiam pelos profundos conhecimentos científicos e humanísticos; pelo "testemunho de fé perante o mundo" (GE 10); pela prática sincera da moral cristã e pelo compromisso na criação duma nova América Latina mais justa e fraterna.Desta forma, contribuirá ativa e eficazmente para a criação e renovação da nossa cultura, transformada pela força do Evangelho, na qual o nacional, o humano e o cristão consigam harmonizar-se da melhor maneira.

1061 Além do diálogo das diversas disciplinas entre si e especialmente com a teologia, da pesquisa da verdade como empresa comum entre professores e estudantes, da integração e participação de todos na vida e ocupações universitárias, cada qual segundo a própria competência, deve a mesma universidade católica ser um exemplo de cristianismo vivo e operante.Em seu âmbito, todos os membros dos diversos níveis - mesmo aqueles que, embora não sejam católicos, aceitam e respeitam esses ideais - devem formar uma "família universitária" (João Paulo II, Alocução Universitários 3 - AAS, LXXI, p. 237).

1062 Nesta missão de serviço, a universidade católica deverá viver em contínua auto-análise e tornar sua estrutura operacional flexível para responder ao desafio da própria região ou nação, mediante a oferta de breves cursos especializados, educação continuada para adultos, extensão universitária com oferta de oportunidade e serviços para marginalizados e pobres.

5. COMUNICAÇÃO SOCIAL

1063 A evangelização, anúncio do Reino, é comunicação: portanto, a comunicação social deve ser levada em conta em todos os aspectos da transmissão da Boa Nova.

1064 A comunicação, como ato social vital, nasce com o próprio homem e tem sido potencializada na época moderna mediante poderosos recursos tecnológicos. Por conseguinte, a evangelização não pode prescindir, hoje em dia, dos meios de comunicação.

5.1. Situação

Visão da realidade na América Latina

1065 A comunicação social surge como dimensão ampla e profunda do relacionamento humano, mediante o qual o homem, individual e coletivamente, à medida que se inter-relaciona no mundo, expõe-se ao influxo da civilização audiovisual e à contaminação da "poluição sonora".

1066 Devido à diversidade de meios existentes (rádio, televisão, cinema, imprensa, teatro, etc.) que atuam de maneira simultânea e maciça, a comunicação social incide em toda a vida do homem e sobre ele exerce de maneira consciente ou subliminar, uma influência decisiva.

1067 A comunicação social está condicionada pela realidade sócio-cultural de nossos países e constitui, por sua vez, um dos fatores determinantes que mantêm esta realidade.

1068 Reconhecemos que os Meios de Comunicação Social são fatores de comunhão e contribuem para a integração latino-americana, bem como para a expansão e democratização da cultura; contribuem, outrossim, para o lazer, especialmente das pessoas que vivem fora dos centros urbanos; aumentam as capacidades perspectivas pelo estímulo visual auditivo, de penetração sensorial.

1069 Não obstante os aspectos positivos assinalados, devemos denunciar o controle desses Meios de Comunicação Social e a manipulação ideológica que exercem os poderes políticos e econômicos, que se empenham em manter o "statu quo" e até em criar uma ordem nova de dependência-dominação ou, pelo contrário, em subverter esta ordem para criar outra de sinal contrário.A exploração das paixões, dos sentimentos, da violência e do sexo, com objetivos consumistas, constituem uma flagrante violação dos direitos individuais.Igual violação aparece na indiscriminação das mensagens, repetitivas ou subliminares, com respeito à pessoa e principalmente à família.

1070 Os jornalistas nem sempre se mostram objetivos e honestos na transmissão de notícias, de forma que são eles mesmos os que às vezes manipulam a informação, calando, alterando ou inventando o conteúdo da mesma, com grande desorientação da opinião pública.

1071 O monopólio da informação, tanto por parte do governo como de interesses privados, permite o uso arbitrário dos meios de informação e dá lugar à manipulação de mensagens de acordo com interesses setoriais.Particularmente grave é o manejo da informação que empresas e interesses transacionais fazem a respeito de nossos países ou com destino a eles.

1072 A programação, em grande parte estrangeira, produz transculturação não-participativa e mesmo destruidora de valores autóctones; o sistema publicitário, tal como se apresenta, e o uso abusivo do esporte, enquanto elemento de evasão, os transformam em fatores de alienação; seu impacto massificante e compulsivo pede levar ao isolamento e até à desintegração da comunidade familiar.

1073 Os Meios de Comunicação Social têm-se convertido muitas vezes em veículo de propaganda do materialismo reinante, pragmático e consumista, e criam em nosso povo falsas expectativas, necessidades fictícias, graves frustrações e um doentio afã competitivo.

Visão da realidade na Igreja da América Latina

1074 Existe na Igreja da América Latina certa percepção da importância da comunicação social, porém, não como realidade global, que afeta todas as relações humanas e a própria pastoral, bem como da linguagem específica dos "media".

1075 A Igreja tem sido explícita quanto à doutrina referente aos Meios de Comunicação Social, publicando numerosos documentos sobre a matéria, embora tenha havido de longas em levar estes ensinamentos à prática.

1076 Há insuficiente aproveitamento das ocasiões de comunicação que se oferecem à Igreja por parte dos meios estranhos e incompleta utilização dos seus próprios meios ou daqueles que são por ela influenciados; além disso, os meios próprios não estão integrados entre si, nem na pastoral de conjunto.

1077 Salvo raras exceções ainda não existe na Igreja da América Latina uma verdadeira preocupação por formar o Povo de Deus na comunicação social, capacitá-lo para assumir uma atitude crítica frente ao bombardeio dos "mass media" e para opor-se ao impacto de suas mensagens alienantes, ideológicas, culturais e publicitárias.Situação que se agrava pelo pouco uso que se faz dos cursos organizados nesta área, escasso orçamento que se destina aos meios de comunicação social em função evangelizadora e descuido da atenção devida a proprietários e técnicos desses meios.

1078 Deve-se mencionar aqui como fenômeno altamente positivo o rápido desenvolvimento dos Meios de Comunicação Grupal (MCG) e dos pequenos meios, com uma produção sempre crescente de material para a evangelização e com um emprego cada dia maior desses meios pelos agentes de pastoral, propiciando-se assim um acertado crescimento da capacidade de diálogo e de contato.

1079 A Igreja da América Latina. tem feito nos últimos anos muitos esforços em favor duma comunicação maior em seu interior. Todavia, em muitos casos, o que se realizou até agora não corresponde plenamente às exigências do momento.O fluxo de experiências e opiniões legítimas, como expressão pública de pareceres no interior da Igreja, reduz-se a manifestações esporádicas e, portanto, insuficientes, que têm pouca influência na totalidade da comunidade eclesial.

5.2. Opções

Critérios

1080 a) Integrar a comunicação na pastoral de conjunto.

1081 b) Dentre as tarefas por realizar neste campo, dar prioridade à formação na comunicação social, tanto do público em geral, como dos agentes de pastoral em todos os níveis.

1082 c) Respeitar e favorecer a liberdade de expressão e a correlativa informação, pressupostos essenciais da comunicação social e de sua função na sociedade dentro da ética profissional, conforme a Exortação Communio et Progressio..Propostas pastorais.À luz da problemática latino-americana e levando em conta o fenômeno da comunicação social e suas implicações na evangelização, cabe formular as seguintes propostas pastorais:

1083 a) Urge que a hierarquia e os agentes pastorais em geral conheçam, compreendam e experimentem mais a fundo o fenômeno da Comunicação Social, a fim de que se adaptem às respostas pastorais a esta nova realidade e se integre a comunicação na Pastoral de Conjunto.

1084 b) Para que a articulação da Pastoral da Comunicação com a Pastoral Orgânica seja efetiva, é preciso criar, onde não existe, e potencializar, onde existe, um departamento ou organismo específico (Nacional e Diocesano) para a Comunicação Social e incorporá-lo nas atividades de todas as áreas pastorais.

1085 c) A tarefa de formação no campo da comunicação é uma ação prioritária. Portanto, urge formar neste campo todos os agentes da evangelização:Para os aspirantes ao sacerdócio e à vida religiosa, é necessário que esta formação se integre nos programas de estudos e formação pastoral.Para os sacerdotes, religiosos, religiosas, agentes de pastoral e para os próprios responsáveis pelos organismos nacionais e diocesanos de Pastoral de Comunicação Social. é mister programar sistemas de formação permanente.Especial atenção merecem os profissionais da comunicação e a formação mais adequada dos que cobrem a área da informação religiosa.

1086 d) Dentro das normas litúrgicas, cada Igreja particular providencie a forma mais adequada para introduzir na liturgia, que é em si mesma comunicação, os recursos de som e imagem, os símbolos e formas de expressão mais aptos para representar a relação com Deus, de sorte que se faculte uma participação maior e mais adequada nos atos litúrgicos.

1087 Recomenda-se utilização esmerada dos aparelhos de som nos lugares de culto.

1088 e) Educar o público receptor para que tenha uma atitude crítica perante o impacto das mensagens ideológicas, culturais e publicitárias que nos bombardeiam continuamente, com o fim de neutralizar os efeitos negativos da manipulação e massificação.

1089 Recomenda-se aos organismos eclesiais que operam em escala continental (UNDA, OCIC, UCLAP) dediquem uma especial atenção à formação do público receptor, assim como das pessoas acima mencionadas.

1090 f) Sem descurar a necessária e urgente presença dos meios de comunicação de massa, urge intensificar o uso dos Meios de Comunicação de Grupo (MCG) que. além de serem menos custosos e de mais fácil utilização, oferecem a possibilidade de diálogo e são mais aptos para uma evangelização de pessoa para pessoa que suscite adesão e compromissos verdadeiramente pessoais.

1091 g) Para maior eficácia na transmissão da Mensagem, a Igreja deve lançar mão duma linguagem atualizada, concreta, direta, clara e ao mesmo tempo caprichada.Esta linguagem deve ficar próxima da realidade que o povo enfrenta, de sua mentalidade e religiosidade, de tal sorte que possa ser facilmente captada; para isso, é preciso levar em conta os sistemas e recursos da linguagem audiovisual própria do homem hodierno.

1092 h) Com o objetivo de iluminar pelo Evangelho os acontecimentos cotidianos e acompanhar o homem latino-americano com base no conhecimento de seus afazeres diários e dos fatos que influem sobre ele, a Igreja deve preocupar-se com possuir canais próprios de informação e de notícias que assegurem a intercomunicação e o diálogo com o mundo.Isto é tanto mais urgente quanto a experiência mostra as contínuas distorções do pensamento e dos fatos de Igreja por parte das agências.

1093 A presença da Igreja no mundo da Comunicação Social exige importantes recursos que devem ser providenciados pela comunidade cristã.

1094 i) Conhecida a situação de pobreza, marginalização e injustiça em que estão imersas grandes massas latino-americanas e de violação dos direitos humanos, a Igreja, no uso de seus Meios próprios, deve ser cada dia mais a voz dos desamparados, apesar dos riscos que isto implica.

1095 j) As limitações que temos encontrado no Continente nos forçam a ratificar o direito social à informação, com suas obrigações correlativas, dentro dos limites éticos que impõem o respeito à privacidade das pessoas e à verdade. Maior validez ainda têm esses princípios no interior da Igreja.

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